27 de jan. de 2013

Mãe que teve o filho expulso de loja diz que criança já havia sofrido discriminação parecida Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/mae-que-teve-filho-expulso-de-loja-diz-que-crianca-ja-havia-sofrido-discriminacao-parecida-7382569#ixzz2JBWHUkZj © 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.


Contra a discriminação. Mãe lançou campanha no Facebook e conseguiu 16 mil manifestações de apoio entre os internautas
Foto: Domingos Peixoto / O Globo


RIO — Priscilla Celeste, mãe do menino que sofreu discriminação numa concessionária de automóveis na Barra no último dia 12, disse que esse não foi o primeiro episódio de preconceito vivido pela criança. Segundo ela, seu filho, por causa da cor, passou por situações constrangedoras numa escola, num bar em Ipanema, na Zona Sul do Rio, e também num clube.
— Nós tentamos protegê-lo sempre que possível. E também estamos sempre fortalecendo sua autoestima para que ele saiba que ser diferente é bom. E que entenda que, embora as diferenças existem, na cor da pele, na religião, somos todos iguais. Ele também já sabe que foi adotado e que é o nosso filho do coração. Nós temos quatro filhos adultos que vivem cercando o menino de carinho — afirmou Pricilla, em entrevista ao GLOBO.
Após o incidente na Barra, Priscilla e seu marido, Ronald Munk, lançaram pelo Facebook a campanha “Preconceito racial não é mal-entendido”, que em três dias ganhou o apoio de mais de 16 mil pessoas. O casal, que é branco, alega que o gerente da concessionária Autokraft tentou expulsar a criança, que é negra, e quer uma retratação pública. A empresa diz que houve um mal-entendido.
Ronald e Priscila foram à loja acompanhados do caçula, de 7 anos, que é adotado, em busca de um automóvel novo para família. Ela afirma que, com a campanha, quer estimular empresas a criar procedimentos para evitar os impulsos de funcionários que ainda tenham o preconceito racial enraizado em seu comportamento. Em nota, a concessionária afirmou que o gerente de vendas disse à criança apenas que ela não poderia ficar sozinha no salão. Afirmou ainda que, quando o casal lhe pediu esclarecimentos, ele teria explicado que, por vezes, crianças desacompanhadas entram na loja para vender coisas. A afirmação, segundo a empresa, teria sido mal interpretada pelos pais, que acharam que o gerente teria confundido seu filho com uma criança de rua.
A concessionária alega que houve um mal-entendido e que o gerente não se referiu à cor da criança. Por que a senhora acredita que seu filho sofreu preconceito racial?
Nosso filho estava sentado em uma poltrona em outro ponto da loja assistindo a um desenho que passava na televisão. Quando ele voltou para o lado do pai, o gerente imediatamente disse para ele “você não pode ficar aqui dentro. Aqui não é lugar para você. Saia da loja”. E depois, ainda falou para o meu marido “Isso é porque eles pedem dinheiro, incomodam os clientes. Tem que tirar esses meninos da loja.” O gerente de vendas não viu em nenhum momento nosso filho interpelando, incomodando ou pedindo qualquer coisa a quem quer que fosse. Se ele tivesse prestado atenção no meu filho, teria visto que não se tratava de um menino de rua. Mas ele só prestou atenção na cor da pele. Foi uma ação preconceituosa e prepotente, além de totalmente descabida.
A empresa afirmou que um vendedor teria dito à criança para sair da loja porque ela estaria desacompanhada...
Se fosse uma criança branca, ele mandaria sair da loja ou perguntaria onde estavam os pais? Nada justifica a atitude do funcionário. Na hora, ficamos tão indignados que só queríamos sair dali, mas depois decidimos que isto não poderia ficar assim, que teríamos de dar nossa contribuição, pequena que fosse, para ajudar a mudar esse preconceito que ainda é muito comum, infelizmente. Está na hora de as pessoas que ainda são racistas aprenderem a controlar seus impulsos. Racismo é crime.
A criança, em algum momento, chegou a perceber o que estava acontecendo?
Crianças são inocentes, mas sentem. Meu filho me perguntou se aquela loja não gostava de crianças.
Qual a repercussão da campanha no Facebook?
São 18h (de quarta-feira) e mais de 16 mil pessoas já curtiram a página na rede social. Além disso, dezenas de internautas mandaram depoimentos e centenas compartilharam a mensagem. As redes sociais se tornaram um canal importante para a sociedade se expressar. E acho que, neste caso, ficou claro que a maioria não aceita mais o preconceito.
Vocês ainda pretendem tomar alguma outra medida?
Continuamos aguardando uma retratação por parte da empresa. Se não acontecer, então vamos pensar no que fazer.


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