18 de fev. de 2010

A luta para começar de novo

Presidiários abastecem Alcaçuz

Detentos tentam olhar para um novo horizonte através de programas de inclusão profissional.

Emerson Lima da Silva, 27 anos, é casado e tem cinco filhos. Até um ano e dois meses atrás, sua vida caminhava normalmente. Ele trabalhava como motorista particular e mantinha boas relações sociais. Acusado de ter praticado um assalto em 2004, foi preso em 2009 e, atualmente, tem como endereço a Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta (Grande Natal), onde divide cela com outra pessoa. Ele se diz inocente e acredita que, ao sair, será bem recebido no antigo serviço.
Ronaldo Severino de Oliveira, 46, também sentenciado por roubo, acha que sua reinserção na sociedade não será fácil. "Ninguém dá emprego a ex-presidiário. A gente fica conhecido na sociedade como bandido para sempre", diz.
Flávio da Silva, 23, vingou a morte da mãe, mas afirmou estar arrependido do crime. Ao ganhar a liberdade, quer retomar a profissão de garçom. "Acho que vai ser difícil conseguir emprego. Minha vida depende das pessoas lá fora. Vai depender da confiança delas, mas estou fazendo de tudo para demonstrar bom comportamento", garante.
Cláudio do Nascimento, 41 anos e pai de cinco jovens, era eletricista até ser preso, há quatro anos, após ter praticado um assalto. Há três meses não recebe visitas da esposa, nem de ninguém. "Ao sair, penso em normalizar a minha vida. Tudo que quero é paz e respeito", desabafa.
Os quatro personagens desta reportagem são reais e aceitaram expor as identidades. Em comum, eles têm a baixa escolaridade, fato que não diverge da média nacional referente ao perfil do sistema carcerário. Contudo, esse grupo tem um diferencial: a participação em projetos que visam a ressocialização, política que deveria, por lei, ser o normal, visando a reinserção social e, consequentemente, a minimização do índice de reincidência que, no Rio Grande do Norte, chega a 70%, de acordo com o coordenador do sistema penitenciário estadual, capitão José Deques. Ele mencionou ações realizadas no estado que têm gerado bons resultados, a exemplo do Transforme-se", em que 237 detentas da Penitenciária João Chaves, no Conjunto Santarém, Zona Norte de Natal, inventam moda e revendem as peças em um balcão instalado no shopping Orla Sul, em Capim Macio, Zona Sul da cidade.
O coordenador anunciou que estão em fase de planejamento projetos voltados a artesanato, reciclagem e informática. "Nas penitenciárias e cadeias públicas há ainda cursos de música, reforço escolar e aulas regulares através de uma parceria com a Secretaria de Educação e Cultura", apontou.

Rotina de trabalhador

Emerson Lima atua na fábrica. Sua rotina de trabalho tem início às 8h30min, prosseguindo até às 16h, de segunda a sexta-feira. Por causa disso, não tem tempo de estudar. "Mas, só o fato de trabalhar e ocupar meu tempo já é muito bom", disse.
Já Flávio é responsável pela limpeza da cozinha. Trabalha em regime de escala, dia sim, dia não. Cláudio faz aulas de violão, está estudando e já trabalhou com reciclagem de lixo. "Meu passatempo preferido tem sido ler", revela. E Ronaldo é responsável pelo café de diversos setores de Alcaçuz. Sua rotina tem início às 3h da manhã, prosseguindo até às 19h, dia sim, dia não. Ao sair, diz que vai montar um trailer para venda de sanduíches. "Já fiz muita besteira, mas não quero mais saber do mundo do crime. Não sou santo, mas estou pagando pelo que fiz", reconhece.

Fonte: Diário de Natal

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